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Ian Treherne

Crédito foto:

Starnow

IAN TREHERNE

28/05/2019

Leia essa inspiradora história deste inglês que mesmo com Síndrome de Usher

não deixou de exercer sua grande paixão como fotógrafo.

Ian Treherne nasceu em Essex, no sudeste do Reino Unido. Desde pequeno sua surdez parcial foi percebida e a partir daí, começou usar aparelhos auditivos.

Durante a infância, Ian adquiriu o gosto pelas artes: ele cresceu vendo filmes mudos de Charlie Chaplin e Buster Keaton. Ele também tinha talento para desenhar e pintar. Aos nove ou dez anos de idade, ele segurou pela primeira vez uma câmera fotográfica. Inicialmente, estava mais interessado na mecânica da engenhoca do que em qualquer outra coisa. Quando soube que esta máquina poderia tirar fotos, ele ficou fascinado.

Na adolescência, Treherne foi diagnosticado com retinose pigmentar e consequentemente descobriu a Síndrome de Usher, fato que o fez sentir mais solitário e que o levou a se isolar. Nesta fase, ele se dedicava mais aos desenhos e pinturas, principalmente arquitetura britânica. Geralmente suas obras eram desenhos feitos com lápis preto, pois ele sempre gostou de tons e sombras, algumas vezes também arriscava trabalhar com cores.

Seu grande hobbie era detalhar as fotografias elegantes, feitas para revistas de moda. Ele sempre se perguntava: “Como posso fazer isto?”. Eventualmente, ele imaginava encontrar uma maneira de trabalhar com a visão limitada que tinha, criando "um estilo com o que eu posso ver porque eu não sei nada diferente". Neste período, observava e acompanhava silenciosamente a era digital, principalmente as câmeras fotográficas.

Durante sua juventude, Ian trabalhou esporadicamente como cineasta, modelo fotográfico e guitarrista em bandas.

Ele começou estudar as técnicas de fotografia aos 20 anos de idade, depois que conheceu um fotógrafo que tirava fotos de bandas, no pub Railway Hotel, e instantaneamente se inspirou em aprender a tirar fotos. Na época, comprou uma máquina fotográfica digital simples e logo passou a conhecer com determinação as funções básicas. “Eu então combinei minhas habilidades artísticas com minha câmera e o mundo da fotografia se abriu para mim”, diz. Desde então, Ian começou a se dedicar à esta arte, o que o levou (e ainda leva) a sua paixão ao longo da vida.

 

Trajetória profissional

Mesmo com retinose pigmentar e também daltônico, Ian não deixou que sua condição o impedisse de embarcar na jornada como fotógrafo profissional em meados dos anos 2000. Com o tempo, ele definiu seu estilo de fotografia em preto e branco, inspirada na “aparência de filmes antigos” e “cenas instigantes” principalmente retratos e paisagens urbanas. Seus fotógrafos favoritos são dos anos 60, pessoas como John French, David Bailey, Duffy e Richard Avedo, que os ajudaram a obter experiência.

Ian conta que começou expor seus trabalhos fotográficos quando entrou em contato com Sense, uma entidade de surdocegos em Londres, dizendo que era fotógrafo e que gostaria ser voluntário. Lá eles ficaram muito intrigados em saber como uma pessoa que tem uma visão limitada consegue fotografar. Ao constatarem seu talento, ofereceram o local para ele expor suas fotos. Cerca de 25 fotografias de Ian Treherne foram apresentadas e a exposição fez tanto sucesso que eles pediram para exibir sua arte novamente em outro local.

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Crédito foto:

Facebook Ian Treherne

O estilo de Ian Treherne

Treherne produz a maioria das fotos em preto e branco com movimentos e elegância, usando pessoas ou ambientes que o inspiram. A luz natural desempenha papel crucial na fotografia de Ian e vários tipos de iluminação de estúdio criam conteúdo e tons nas imagens.

Ele está constantemente aprendendo e refinando, sempre elevando o nível do seu trabalho, entretanto o seu estilo original de capturar o mundo com sensibilidade e beleza o fez ser uns dos fotógrafos mais renomados da Inglaterra.  

As fotografias permitem que Ian crie uma conexão mais profunda com o mundo ao seu redor. "Ser surdocego me fez sentir sozinho e isolado... Isso me causa muita ansiedade e estresse. A fotografia me permite participar do mundo e me conectar com as pessoas”.

Sempre que pode, Ian sai com sua bengala e a bolsa com as máquinas, costuma apreciar e registrar algumas das belezas nas ruas e cidades.

Ele diz que tem fascínio pela arquitetura e gosta de capturar os prédios em diversas perspectivas, mas que tem como destaque a luz:  “Quero mostrar ao público o que eles estão perdendo todos os dias... Poucos param para ver a beleza da luz.” E acrescenta: "Eu gosto de mostrar às pessoas coisas simples e toda a sua essência." E enfatiza: "Eu vejo menos do que a maioria das pessoas, mas acho que de certa forma, isso me faz ver mais na vida". Ele continua: "Por alguma razão, consigo ver beleza em algo que não é particularmente bonito e que normalmente as pessoas dizem ser feio.”

O fato de Ian ser também pintor o ajudou muito nas habilidades fotográficas. A combinação das duas mídias aperfeiçoou mais o seu lado artístico. Apesar de se dedicar pouco às pinturas, Ian de vez em quando ousa em ser diferente e ao contrário das fotos, seus quadros são coloridos: “Ultimamente não estou pintando muito, porém quando faço isto, costumo sair da minha zona de conforto e uso cores variadas.” Ele diz que gosta de ouvir músicas enquanto pincela e acompanha o ritmo como fonte de inspiração, mas enfatiza: “Eu fico mais animado com fotografia do que com arte. Toda vez que tiro uma foto, coloco meu coração e minha alma no meu trabalho”. 

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Crédito foto:

Facebook Ian Treherne

Ian Treherne e a Síndrome de Usher

Com a exposição de fotos no Sense, Ian ficou conhecido pelos visitantes como o “fotógrafo surdocego”, mas ele não falava de sua condição a todas as pessoas. Ian lutava em aceitar a realidade, tinha crise emocional a tal ponto que percebeu que precisava mudar para seguir a vida em frente: "Eu estava tão cansado de lidar com isso, vivendo com um segredo e fingindo que estava bem... estava cansado de pessoas que não sabiam o que estava se passando comigo”. E como ele mesmo disse, “o universo funciona de maneira misteriosa” até que um dia, um jornalista do BBC News o convenceu a divulgar sobre sua condição em entrevista e logo após, em uma reunião com voluntários, uma pessoa entrou na conversa com Ian dizendo que trabalhava no The Undateables, um programa de documentário sobre pessoas com deficiências. Ele disse que estava procurando uma pessoa cega total ou parcial e ofereceu a Ian para estrelar na série. Treherne relutou, contudo entendeu que seria um desafio e isto o forçaria para falar de sua deficiência. “Aceitei o convite... Não mudou meu jeito de ser, mas foi um enorme alívio poder falar livremente sobre a Usher, pois sempre vi isso como uma fraqueza”. Hoje ele é capaz de falar sem problemas: “Escondi a minha síndrome de Usher por muitos anos e lutei como ser humano para participar neste mundo, agora concluo que há muito trabalho que precisa ser feito para mudar a percepção das pessoas sobre a deficiência”.

Ele decidiu admitir: “É uma condição que não dá para corrigir, eu sei... então eu simplesmente continuo seguindo a vida da melhor forma possível. Ser criativo nas fotos tem sido o melhor antídoto para mim”.

Todos perguntam para Ian se a Síndrome de Usher afeta o trabalho dele como fotógrafo: “Quer saber? Não sei! Eu sempre fui assim, não sei o que é diferente... eu sou assim há tanto tempo que é 'normal' para mim. Eu me adaptei naturalmente para atender às minhas necessidades e ao ambiente.” E acrescenta: "É um pouco irônico que eu precise usar meus olhos para a minha fotografia, mas eu me divirto muito com isso. Tenho que pensar em tudo que estou fazendo e fico olhando 10 vezes mais para onde vou e o que vou registrar em imagens”. Por ser observador, ele diz que o mais importante é “a capacidade e não a deficiência”.

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Crédito foto:

Echo News UK

Ser inspiração para outras pessoas

Nos últimos anos, Ian fez campanha para aumentar a conscientização sobre sua condição e mudar o conceito sobre a deficiência. 

Com sua fotografia diz que quer inspirar outras pessoas que tem dificuldades visuais e/ou auditivas, quer encorajá-las a pegar uma câmera e capturar imagens no mundo: "Eu espero mostrar que com um pouco de vontade, paixão e entusiasmo, não importa o quão difícil as coisas são para você, com tentativas você chega lá”.

Mesmo que sua visão esteja se deteriorando, ele diz: “É algo que não penso muito, eu foco mais na fotografia e então faço o máximo possível enquanto eu ainda tenho a visão”. E complementa: “Apesar de ver pouco, para mim é um milagre ainda enxergar.”

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Crédito foto:

Facebook Ian Treherne

A carreira

Em 2012 ele foi indicado para o prêmio Fotógrafo do Ano do London Fringe Festival.

Hoje Ian Treherne tem 41 anos de idade, é palestrante motivacional e embaixador do Sense, entidade de surdocegos no Reino Unido.

Ele participou da série de cinco curtas intitulada More Than An Image da TV britânica Wex. O documentário revela o extraordinário trabalho de fotógrafos que tiveram de lidar com uma variedade de desafios da vida.

Como resultado de sua divulgação, ele foi indicado para o prêmio “Pessoa do Ano” do Instituto Sense em setembro de 2017.

Vídeos 

Selecionamos vídeos de Ian Treherne como cineasta e guitarrista. Ele também se apresentou em vários documentários nos quais dá seu depoimento sobre a Síndrome de Usher e sobre seu trabalho fotográfico (vídeo em inglês).

FILMES DE IAN TREHERNE

"Swan"

Ian fez este vídeo para mostrar como é a retinose pigmentar:
¨The Walk"

IAN TREHERNE COMO GUITARRISTA

DOCUMENTÁRIO DA TV INGLESA "THE UNDATEABLES"

Vídeo em inglês

Fotos 

Destacamos aqui algumas fotos de Treherne. Você também pode dar uma olhada no site dele. Confira!

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Revisão: Telma Nunes de Luna

Fontes

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